domingo, 27 de abril de 2008

Sem melar a voz

José não entendia Magali: Ele até percebia que ela era uma mulher incomum, que não podia tratá-la como outra qualquer, mas insistia em colocá-la na mesma categoria de várias de suas amigase ex-namoradas. Na verdade, ele tinha medo dela. Porque sua intensidade era mesmo assustadora.

Magali era engraçada. Não falava muito,mas tinha convicções avançadas para o seu meio. Adoravaprestas atenção às reações sutis que as pessoas tinham com os fatos cotidianos. "É aí que elasmostram quem realmente são" - dizia.

Lembro, por exemplo, do horror que demonstrava por mulheres que melavam a voz quando se dirigiamao namorado em público. DIziam que faziam isso só pra marcar presença, mostrar para as outrasfêmeas que aquele macho tinha dona.

-Que implicância! Isso é tão comum! - eu lhe dizia.-Mas repara como é ridículo ver umamenina chegar pro namorado no meio da roda de um barfalarassim, com aquela voz chorosa, batendo de leve a mão na cadeira ao lado "Ah amor, senta aqui...". Constrange qualquer um. Dou toda rapaz quando o caraignora - ela me respondia.

É lógico que Magali gostava de romances. Adorava o amor privado, as juras secretas,os jogosde sedução, o cuidado sutil que um sempre deveria ter com o outro. Só não gostava de demonstrações públicas exageradas.

- O compromisso tem que ser leve, não pode parelisar nenhum dos dois - pregava, sem vergonhade ser piegas.

Quando estava no meio de um grupo, queria estar solta, misturada à multidão,livre para mexercom quem quisesse e também para receber elogios, agrados, olhares. O problema é que os homensque conheceu, até os que se diziam muito liberais, sempre acabavam em crise de posse.

-Por que, entre casais, um sempre tem que querer sufocar o outro? - questionava.

Um dia brigou com um namorado porque, em uma churrascaria, foi abraçá-la e beijá-la perguntando porque ela o estava ignorando. "Parecia que eu era um troféu" - ela dizia.

Sonhava com um amor aberto e tranquilo. Alguém que pudesse confiar, que também confiasse nelae pronto. O tempo de se ver, seria o tempo possível, porque os dois saberiam que não existiria motivos para preocupações sem fundamentos. Queria ser sim, paparicada e paparicar, mas não admitiadepender de nenhum homem e não queria que ele dependesse dela para viver.

Coitado do José! Acostumado com garotas que se esforçavam para parecer avançadas, Magali o assustou.Tanta liberdade era demais. E o romance dos dois, sem nenhuma explicação, acabou.
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Ouvindo: INXS - Beautiful girl


3 comentários:

Max Gimenes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Max Gimenes disse...

Escritora do meu coração,

Não conhecia essa sua criatividade para a ficção, foi uma surpresa muito boa.

Escreva sempre, vai fazer bem pra vocÊ e pra quem ler seus textos, como eu espero fazer sempre.

E a outra coisa boa é que ler seu blog ajuda a diminuir a saudade de falar com vc^^...

Unknown disse...

realmente coitado do josé
ouvindo(and justice for all